quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Primeiro submarino nuclear brasileiro será usado em 2023

   O Brasil possui duas amazônias.   A primeira todo mundo conhece: 3,2 milhões de km² de floresta e biodiversidade.   A outra, apesar de ocupar toda a porção leste do país, ainda é quase secreta.   É a Amazônia Azul, como a Marinha convencionou chamar o território submerso na costa brasileira.   A área tem 4,4 milhões de km² de água salgada, e importância econômica incrível — dali é retirado 90% de nosso petróleo e por ali passa 95% de nosso comércio exterior.   Escondidos sob as ondas, somente 5 submarinos patrulham essa imensidão — é como patrulhar as fronteiras da floresta amazônica e deixar o miolo desprotegido. Com a descoberta do pré-sal, cuidar dessa área se fez mais urgente ainda. 

   Para isso, a Marinha traçou um plano de longuíssimo prazo: até 2047, o país terá 26 submarinos patrulhando sua costa.   O primeiro passo foi no final de 2008, quando o governo brasileiro firmou um convênio com a França para a transferência da tecnologia do submarino Scorpène.   O segundo foi em julho de 2011, com o início da fabricação das novas embarcações no estaleiro de Itaguaí, no Rio de Janeiro.   A próxima geração de submarinos brasileiros deve chegar aos mares em 2017. Mais importante que isso, no entanto, são as mudanças que os engenheiros brasileiros planejam fazer no projeto francês.   A ideia é realizar um transplante: sai o motor a diesel, entra um reator nuclear.   Começando agora, a Marinha espera concluir a construção do primeiro submarino movido a propulsão nuclear em 2023. 

   Com isso, o Brasil entraria para o seleto clube dos países que dominam a tecnologia — China, Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia.   Para se ter uma noção da importância estratégica desse veículo, esses 5 são justamente os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 

Corpo de aço, coração nuclear 

   Segundo o almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, atual comandante da Marinha do Brasil, o submarino é o veículo com o melhor custo/benefício na guerra naval.   “Sua vantagem determinante é a capacidade de se ocultar e surpreender”, diz.   Na guerra das Malvinas, por exemplo, foi o elemento surpresa que permitiu a um submarino britânico realizar o maior ataque do conflito, quando destruiu um navio argentino e matou 368 homens. 

   No entanto, os submarinos convencionais têm um grande inconveniente: após alguns dias submersos eles precisam voltar à superfície para literalmente pegar ar e recarregar as baterias — e lá se vai o elemento surpresa.   Já o submarino nuclear, graças à capacidade quase inesgotável do seu reator, pode ficar debaixo d’água por meses e atingir altas velocidades por tempo ilimitado.   “Ele pode chegar a qualquer lugar rapidamente.   Para o inimigo, significa estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, diz Moura Neto. Mas homens têm limites: quando o submarino nuclear sobe, é para repor alimentos e desestressar a tripulação. 

   Engenheiros brasileiros já estão na França para receber treinamento na montagem do submarino.   As peças mais caras, como o casco de aço, periscópio e sonar, terão de ser importadas de lá.   Já a tecnologia nuclear será totalmente desenvolvida no Brasil, e a Marinha vai usar a técnica nacional de fissão nuclear (para saber o que é fissão, leia a matéria Não faça você mesmo, nesta edição; para saber como ela move as turbinas, ver infográfico ao lado).   Além disso, os submarinos virão armados com torpedos e mísseis Exocet franceses.   Cada embarcação vai custar cerca de US$ 1,5 bilhão. 

Tecnologia profunda 

   Desde os anos 70 os militares brasileiros planejam a construção de um submarino nuclear, mas sofriam com barreiras impostas pelas potências estrangeiras.   A tecnologia teve de ser desenvolvida aqui dentro — em 1982, o país dominou o ciclo de combustível nuclear.   A partir dos anos 90, os recursos minguaram, até a ressurreição recente do projeto.   O próximo passo deve ser a construção de um reator nuclear em solo, para testar o equipamento.   Ele está sendo desenvolvido no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP), e deve ser concluído em 2014. 

   Uma preocupação que envolve o projeto é a falta de profissionais para lidar com a tecnologia.   A Comissão Nacional de Energia Nuclear, que em 1991 tinha 3.750 servidores, hoje tem somente 2.550 — com idade média de 56 anos.   “Há uma necessidade urgente de reposição e de formação de novos profissionais”, diz José Roberto Piqueira, vice-diretor da Escola Politécnica da USP. 


   Pensando nisso, a USP irá abrir em 2013 um curso de graduação em Engenharia Nuclear, ao lado do centro da Marinha em Iperó. Parcerias entre as duas instituições já estão nos planos. Submarinos e engenheiros nucleares: é o Brasil buscando novos voos — ou melhor, mergulhos.



Fonte: IE







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