segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pedra lunar revela que a Lua teve um núcleo magnético pastoso

O astronauta Harrison Schmidt coletando amostras na missão Apollo 17. Crédito: NASA. Crédito: NASA
O astronauta Harrison Schmidt coletando amostras na missão Apollo 17. Crédito: NASA
Quando, nos anos 60 e 70, os cientistas afirmaram que as pedras da Lua trazidas pelos astronautas da Apollo iriam manter os pesquisadores bastante ocupados por décadas, eles não estavam brincando. A análise em uma das mais puras rochas coletadas na missão Apollo 17 ajudou a resolver um antigo enigma lunar. Os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) trabalharam na mais detalhada análise já feita da mais antiga pedra da coleção da Apollo. Traços magnéticos registrados na rocha forneceram uma forte evidência que há 4,2 bilhões de anos a Lua tinha um núcleo líquido com um dínamo, como o manto existente na Terra hoje, o qual produz um poderoso campo magnético.

Troctolite: pedra lunar coletada pela Apollo 17. Crédito: NASA
Troctolite: pedra lunar coletada pela Apollo 17. Crédito: NASA
Antes das missões Apollo muitos cientistas estavam convencidos que a Lua nasceu fria e permaneceu assim, sem calor suficiente para formar um núcleo líquido. O programa Apollo provou que existiram fluxos massivos de lava na superfície lunar, mas a idéia que a Lua tenha tido um núcleo líquido permanecia controvertida. “Os cientistas têm debatido ferozmente sobre isso por 30 anos”, disse Ben Weiss, professor assistente de Ciências Planetárias no Department of Earth, Atmospheric and Planetary Sciences do MIT. Weiss publicou um artigo sobre a nova descoberta na revista Science em 16 de janeiro de 2009.
Muitas das rochas trazidas da Lua tinham propriedades magnéticas, o que intrigava os cientistas. Como poderiam as rochas lunares terem magnetismo se a Lua não teve um núcleo magnético?

A análise da rocha lunar trazida pela missão Apollo 17, encontrada pelo astronauta-geólogo ‘Jack’ Smith mostrou novas evidências


Uma rocha em particular se destacava. Essa rocha foi coletada pela Apollo 17, a última missão de pouso na Lua, que tinha no time Harrison “Jack” Schmidt, o único geólogo até hoje que andou na Lua. “Muitos pensam que se trata da pedra lunar mais interessante”, destacou Weiss.
“Esta é uma das mais antigas e mais puras amostras conhecidas”, afirma o estudante Ian Garrick-Bethell, que foi o autor líder do artigo na Science. “Como se isso não fosse o bastante essa é talvez a uma das mais belas rochas lunares, mostrando uma mistura de cristais verdes brilhantes com cristais brancos como o leite”.
O time estudou traços magnéticos fracos em uma amostra simples da rocha em grande nível de detalhe. Usando um magnetômetro comercial que estava especialmente acoplado a um sistema robótico para tomar diversas leituras “permitiu-nos realizar medidas em uma ordem de magnitude maior que os estudos prévios de amostras lunares” disse Garrick-Bethell. “Tal esforço permitiu-nos estudar a magnetização da rocha em muito maior nível de detalhe que o possível anteriormente”.
Esses dados permitiram aos cientistas excluir as outras possíveis fontes dos traços magnéticos tais como os campos magnéticos gerados por grandes impactos de meteoritos na Lua. O magnetismo gerado por tais eventos tem um tempo de vida curto. Mas a assinatura magnética na rocha lunar mostrou-nos que tal rocha deve ter permanecido em um ambiente magneticamente ativo por um longo período de tempo – milhões de anos – e assim o resíduo magnético tem que ter sido originado de um dínamo de longa duração.

Big Splash!
Big Splash!

Big Splash?

Essa idéia não é nova, mas tem sido “um dos problemas mais controvertidos na ciência lunar”, completou Weiss. O campo magnético necessário para magnetizar essa rocha está estimado em cerca de um-quinto da força do campo magnético terrestre atual, segundo Weiss. “Isto está consistente com a teoria do dínamo”. Além disso, essa tese se encaixa na teoria mais aceita atualmente, o “Big Splash“, que a Lua se formou em conseqüência de um impacto colossal de um objeto massivo errante, do tamanho de Marte, denominado Théia, que se chocou com a Terra e arrancou parte da crosta terrestre espalhando-a pelo espaço, formando a seguir a Lua.
As novas descobertas nos ressaltam de fato o quanto nós ainda não conhecemos sobre nosso vizinho mais próximo no espaço e que será em breve novamente visitado pelos humanos segundo os planos da NASA. “Embora os humanos já tenham visitado a Lua 6 vezes, na realidade nós apenas arranhamos a sua superfície quando consideramos o entendimento que temos sobre esse outro mundo”, disse Garick-Bethell.

Fontes e Referências:

Universe Today: Apollo Rock Reveals Moon Had Molten Core por Nancy Atkinson
MIT News Office: Astronomers crack longstanding lunar mystery [Ancient rock's magnetic field shows that moon once had a dynamo in its core] por David Chandler

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