LUIZA VILLAMÉA
Maior ilha do mundo, a Groenlândia tem 80% de seu território coberto por uma camada de gelo que chega a atingir 2,5 quilômetros de profundidade. Se toda essa camada se derretesse, seria um desastre mundial. O nível de água no planeta subiria cerca de sete metros. Nos últimos tempos, os 56 mil moradores estão supresos com a recente retração de geleiras que permitiu a descoberta de bolsões de chumbo e zinco próximos à cidade de Uummannaq. “Sabemos que temos ouro, diamante, petróleo e grande quantidade da água mais limpa do mundo”, costuma repetir a ministra das Finanças da Groenlândia, Aleqa Hammond. “E podem estar mais perto do que imaginamos.” A expectativa de que riquezas do gênero existam em abundância está provocando tanto impacto que fez emergir com toda força um movimento de independência que se arrastava por pelo menos três décadas. Em novembro, os moradores da Groenlândia vão participar de um referendo para aprovar ou não um plano de autogoverno, traçado em parceria com a Dinamarca.
Protetorado dinamarquês desde 1721, a ilha ganhou uma autonomia relativa em 1978, quando foi montado um governo local. Entre suas principais lideranças está justamente a ministra Aleqa Hammond, nascida e criada na Groenlândia. Antes de entrar para a política, ela havia trocado a rotina de sua família, ligada à caça de subsistência, pela vida religiosa. Aleqa, como a maioria dos defensores do movimento separatista, sabe que o principal entrave para a independência sempre foi a economia. Enquanto a caça e a pesca de subsistência representavam a principal atividade produtiva da região, não havia a menor chance de sobreviver sem a ajuda da Dinamarca, que repassa anualmente US$ 680 milhões para a ilha. O subsídio equivale à metade do orçamento da Groenlândia.
A descoberta de petróleo e gás no território, em meados dos anos 1990, mudou radicalmente a forma com que empresas e governos passaram a observar aquela parte remota do mundo. A expectativa aumentou ainda mais no ano passado, quando a United States Geological Survey, organização americana especializada em pesquisa de riquezas naturais, divulgou estudo estimando que existem 31 bilhões de barris de petróleo, além de gás, nas águas ao norte da ilha. Elevada à condição de nova fronteira do petróleo, a Groenlândia já firmou contratos de prospecção com a Exxon Mobil, a Chevron e a Canada’s Husky Energy, entre outras empresas. A Alcoa, gigante do alumínio, também entrou no circuito. Já está na fase final da montagem de um complexo de fundição, que inclui a usina hidrelétrica e o porto, próximo à cidade de Maniitsoq.
No extremo sul da ilha, na cidade de Alanouq, a mineradora Crew Gold começou a prospectar ouro ainda em julho de 2004. A atividade, inusitada na região, rendeu no ano passado 1.664 quilos de ouro para a empresa, que opera a partir de uma base com capacidade para abrigar até 100 trabalhadores. Tesouros também começam a emergir em outras partes da Groenlândia, à medida que rochas cobertas por gelo há séculos passam a ser exploradas. Pouco depois de estrear suas atividades na costa sudeste da ilha, a canadense Hudson Resources anunciou a descoberta de um opulento lote de diamantes – um deles com 2,4 quilates – nas proximidades do lago Garnet. “Esses primeiros resultados demonstram claramente que o veio do lago Garnet tem, potencialmente, grandes diamantes”, diz o presidente da empresa, James Tuer.Entre os moradores do país emergente há aqueles que observam com cautela a efervescência em torno dos novos empreendimentos. Um deles é o assistente social Aqqakuk Lynge, presidente do Conselho Circumpolar Inuit da Groenlândia, que não vê com otimismo o relacionamento de nativos pobres com empresas de países ricos. Lynge reconhece a necessidade de expandir as atividades econômicas da ilha para além da pesca e da caça, mas teme que uma exploração desenfreada dos produtos encobertos pelo gelo não represente benefícios para a população. “Eu até rezo para que a descoberta de riquezas não seja tão grandiosa quanto propagam”, diz. Além disso, Lynge se preocupa com a geografia da Groenlândia. “Somos vulneráveis também por causa da disputa pelo Ártico”, argumentou em seminário recente. Situada entre o oceano Atlântico e o mar Glacial Ártico, a Groenlândia é a massa de terra mais próxima do Pólo Norte, o que lhe conferiu posição estratégica. Desde que a suposta riqueza mineral do Ártico virou objeto de disputa internacional, os russos já fincaram bandeira no fundo do oceano. Em contrapartida, os americanos reforçaram a base aérea que mantêm em Thule, no extremo norte da ilha.
Fonte: Isto é
Acho que as mudanças climáticas estão começando a alterar o mapa econômico mudial e certamente afetará a vida e a geografia como conhecemos. Alberto Cohen Filho
Estou muito preocupada com essa exploração desenfreada... Nós seres humanos não estamos dando a devida importância a natureza
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