terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Falha geológica e deslizamento exigiram readaptações na construção de túneis no Rio Grande do Sul

 Obras, as primeiras concluídas no Brasil dentro da nova norma de segurança, receberam reforço na estrutura e projeto de jet-grouting e pregagens com injeção de cimento
Ana Paula Rocha
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) inaugurou em dezembro os túneis do Morro Alto, dimensionados e construídos dentro da nova norma de segurança de túneis, a NBR 15.661/2009 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A estrutura faz parte da obra de recuperação e melhoria da BR-101, que liga a cidade de Osório, no Rio Grande do Sul, com a divisa de Santa Catarina. Com as novas intervenções, a distância foi reduzida de 99 km para 88 km.

Divulgação: Dnit
Trecho do emboque sul após a instalação das cambotas metálicas

Paralelos entre si, os dois túneis, um para cada sentido, são denominados Túnel Direito e Túnel Esquerdo e possuem comprimentos de 1.841,26 m e 1.833,23 m, respectivamente. A seção contínua interna dos túneis é de 113,02 m², a largura na base é de 14 m e altura na abóboda de 8,71 m. Entre eles, há cinco túneis de ligação, um a cada 300 m, com 15 m de comprimento cada. Essas estruturas permitirão uma evacuação segura dos usuários no caso de incidentes.
Para a construção dos túneis adotou-se o método NATM (New Austrian Tunnelling Method), que consiste na escavação sequencial do maciço, utilizando concreto projetado com resistência de 30 MPa como suporte, associado a outros elementos como cambotas metálicas em treliça, reforçadas com armaduras, e telas metálicas de aço CA60. "No Morro Alto, optou-se por fazer uma escavação com método a fogo, em seção parcializada, na qual primeiro se faz a retirada da calota, que é a parte superior, e depois o rebaixo (ou greide) do túnel", explica o engenheiro Eloi Angelo Palma Filho, coordenador de obras do Dnit.

Divulgação: Dnit
Frente de escavação mostra heterogeneidade de materiais

Segundo ele, outro método que também pode ser utilizado para a escavação de túneis é a seção plena, feita em uma única etapa. No caso do túnel do Morro Alto, no entanto, não foi possível adotá-la devido às características da rocha, que era do tipo basáltica, mas com vários níveis de derrames e características de alteração e fraturamento, situação considerada inapropriada para esse estilo de escavação.
Uma das dificuldades da obra, segundo o engenheiro, foi o escorregamento da encosta no emboque sul do túnel, que teve que ser estabilizado com um vasto projeto de jet-grouting e pregagens com injeção de cimento. Além disso, o encontro de uma falha geológica longitudinal à escavação, no terço médio dos túneis, e que não havia sido prevista na fase preliminar à obra, também determinou o atraso da construção e o encarecimento do projeto. "Foi necessário readaptar o sistema construtivo, visando manter a segurança estrutural e da equipe de trabalho na obra. O sistema de suporte continuou o mesmo, só que mais robusto, aumentando o volume de concreto, armadura e tela", conta Filho.

Divulgação: Dnit
Falha geológica dificultou escavação dos túneis do Morro Alto

Norma de segurançaPara o atendimento à nova norma de segurança, foram instaladas portas do tipo corta-fogo nos túneis de ligação, para garantir que a rota de fuga tenha condições seguras, mesmo a 250 m abaixo da superfície da montanha. Também foram instalados em toda a extensão dos túneis, na região do teto, cabos sensores (chip cable), que identificam a elevação repentina de temperatura no interior das galerias e repassam a informação como alerta de provável situação de fogo.

Divulgação: Dnit
Par de jatos ventiladores

Outros equipamentos de alta tecnologia, como os sensores de opacidade do ambiente e de emissão de gases CO2, acionarão automaticamente 24 jato-ventiladores, 12 em cada túnel, que têm a capacidade de reversão de fluxo, o que possibilita direcionar a fumaça de incêndio, no caso extremo, ao sentido que resulte na maior segurança dos usuários durante a evacuação do local. Cada jato-ventilador tem capacidade de empuxo de 755 N, consumirá cerca de 20 kW/h, e resiste ao fogo por até 2 horas em temperaturas de 250º C.
Os túneis ainda possuem um sistema de monitoramento por meio de 36 câmeras de vídeo, instaladas a cada 100 m e duas subestações de energia, posicionadas cada uma em um emboque.

Iniciada em 2006, a construção dos túneis do Morro Alto foi realizada pela construtora Queiroz Galvão S/A e a instalação da parte de Sistemas Operacionais e de Segurança foi feita pelo consórcio Telvent Brasil S/A e AdTranz Sistemas. A obra de recuperação e melhoria da BR-101 teve um custo final da ordem de R$ 1 bilhão, dos quais cerca de R$ 215 milhões foram destinados apenas para a execução da parte subterrânea.

Divulgação: Dnit
Túnel possui 184 luminárias do tipo LED

Um comentário:

  1. Interessantíssimo a nova norma de construção de túneis e os equipamentos de mobiliário da estrutura.

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