Cuidados com o meio ambiente e desenvolvimento energético do país em vias contrárias na construção de usinas a fio d’água.
A busca por fontes limpas, renováveis e, principalmente, economicamente viáveis para a geração de energia é um dos assuntos mais debatidos da última década. No Brasil, país rico em recursos hídricos, as usinas hidrelétricas são responsáveis por 95% da energia elétrica produzida e, embora sejam uma das soluções mais limpas, causam significativos impactos negativos sobre o meio ambiente e as populações próximas aos empreendimentos.
Buscando diminuir esses impactos, os projetos das usinas costumam incluir compensações sociais e ambientais como a implantação de unidades de conservação, programas de recuperação de áreas degradadas durante a construção das barragens, programas educativos, ações de proteção, resgate da fauna e qualificação de mão de obra profissional. Mesmo com todas essas precauções, a pressão de técnicos e ambientalistas por causa da inundação de quilômetros de florestas, e por vezes até cidades inteiras, para a construção dos reservatórios levaram à criação de um novo conceito de hidrelétricas.
As usinas hidrelétricas a fio d’água são construídas sem um reservatório de grande volume para o armazenamento de água e, consequentemente, inundam uma área menor, causando impactos
imediatos significativamente menores que as usinas de grandes reservatórios.
Embora a construção de usinas a fio d’água possa parecer, em um primeiro momento, a solução
de um problema ambiental, há especialistas que apontam para outra direção. Fazendo uso apenas da
vazão natural dos rios, as hidrelétricas a fio d’água não reservarão água durante o período de chuvas
(novembro a abril). O resultado é uma menor produção de energia. Durante as grandes estiagens, para manter o país funcionando, as usinas termelétricas – de carvão, óleo e gás – terão que ser ativadas com mais
frequência, emitindo grande quantidade de gases poluentes e gastando bem mais recursos que uma hidrelétrica de grande reservatório.
De acordo com o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE/UFRJ, secretário do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas e ex-presidente da Eletrobrás, as hidrelétricas a fio d’água, como
as do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), são, ao mesmo tempo, um problema e uma solução. “O
Brasil é o quarto país de maior potência hidrelétrica do mundo, perdendo apenas para Canadá, Estados
Unidos e China, mas ainda usa apenas uma parte dessa potência. Hoje, não há outra fonte que possa
substituir as hidrelétricas mas, fato, será cada vez mais necessária a complementação com outras fontes
que, além das termelétricas, pode ser feita por fontes eólicas e de biomassa”, explicou.
Outro reflexo das usinas a fio d’água poderá ser sentido no bolso da população. Além de triplicar a
emissão de CO2, essas novas usinas vão resultar em um encarecimento da energia e, consequentemente,
em gastos extras para os consumidores finais. O desperdício não fica só na necessidade de fontes auxiliares
quando os rios estiverem vazios, mas também quando estão cheios. Sem reservatório, em períodos de grande cheia, um grande volume de água é descartado.
O Diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, aponta que o modelo de hidrelétricas a fio d’água é extremamente positivo do ponto de vista social. “Geralmente o ponto de cheia dos rios é usado como ponto máximo do reservatório. O resultado disso é um impacto positivo: as famílias do entorno que, de tempos em tempos, sofriam com as enchentes já não ficam mais em área de risco”.
Ele ressalta, no entanto, que é importante que bacias onde não é possível criar grandes reservatórios sejam usadas para a geração de energia, mas que este não seja o único modelo utilizado. Para ele, a questão principal não é usar ou não o fio d’água, mas quando usar. “O problema surge quando mesmo com um impacto social mínimo e com todas os pontos favoráveis apontando para um reservatório robusto, opta-se pelo fio d’água, diminuindo a energia que poderia ser gerada naquele local. É preciso olhar além do próprio umbigo e vislumbrar o quadro completo”, ressaltou.
A Usina de Itaipú, a última da Bacia do Rio Paraná, é um bom exemplo de usina a fiod’água bem implantada. Seu reservatório é menor que o das usinas de Sobradinho, Tucuruí, Porto Primavera, Balbina, Serra da Mesa e Furnas, mas tem o maior aproveitamento entre elas. A maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia fornece 18,9% da energia consumida no
Brasil e 77% do consumo paraguaio, tem apenas um reservatório mínimo e, ainda assim, em duas de suas turbinas passa uma vazão equivalente à toda a vazão das Cataratas do Iguaçu.
Acho interessante o Brasil repensar a questão nuclear. Uma usina nuclear ocupa pouco espaço, tem alta produção energética, não causa impacto ambiental (desde que todas as normas de segurança sejam atendidas) e abre um çleque de possibilidades tecnológicas para o Brasil.
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