quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Gritos de mulheres e crianças enterradas vivas atormentam refugiados no Iraque

O refugiado Samo Ilyas Ali tem nove filhos para alimentar, mas não consegue pensar no futuro porque os gritos de mulheres e crianças apelando por ajuda enquanto são enterradas vivas por militantes do Estado Islâmico no norte do Iraque assolam sua mente.
Dezenas de milhares da minoria yazidi fugiram de sua terra natal em Sinjar e outros vilarejos para escapar do avanço acelerado dos islâmicos sunitas, que veem o grupo étnico como adorador do diabo que precisam escolher entre adotar sua versão radical do islamismo ou morrer.
Os refugiados ficam à toa nos campos da região curda semiautônoma no norte iraquiano.
Traumatizados pelos militantes do Estado Islâmico, notórios por suas decapitações e execuções em massa, eles simplesmente desistiram de viver no Iraque e desejam se afastar o máximo possível para países como a Alemanha, a um mundo de distância de seus misteriosos costumes.
Os ataques aéreos dos Estados Unidos contra posições do Estado Islâmico e as promessas dos comandantes curdos de recapturar os vilarejos dos yazidis não reconfortaram ninguém e é fácil entender o por quê.

EXTREMISTAS SEQUESTRAM MULHERES E MATAM CURDOS NO IRAQUE

Dez dias atrás, Ali e seus vizinhos foram cercados à noite subitamente pelos militantes com metralhadoras. Eles tinham barbas longas. Alguns usavam máscaras e inscrições em árabe nas laterais da cabeça.
Os curdos peshmerga, ou "aqueles que confrontam a morte", estavam ausentes, preservando partes do norte e vistos como a única força capaz de fazer frente ao Estado Islâmico depois que milhares de soldados iraquianos treinados pelos EUA fugiram diante de sua ofensiva, deixando para trás armamentos que incluem tanques.
De repente, os homens começaram a cavar valas, que logo se tornariam túmulos coletivos.
"Não entendemos. Aí começaram a colocar pessoas nos buracos, e elas estavam vivas", relatou Ali, de 46 anos, parando para chorar.
"Após algum tempo ouvimos disparos. Não esqueço a cena. Mulheres, crianças, chorando e pedindo ajuda. Tivemos que correr para salvar a vida, não havia nada a fazer por eles."
Alguns yazidis escaparam com o auxílio de combatentes turcos e sírios, mas cenas semelhantes foram relatadas em várias partes do norte do país.
Muitos yazidis perderam a fé no Iraque e seus líderes. Alguns se queixaram de que as forças curdas não iriam deixá-los viajar à Turquia.
Não está claro se as forças do governo iraquiano ou os peshmerga conseguirão recuperar territórios e mantê-los, o que ajudaria os yazidis a voltar a acreditar no país.
Ampliar


Avanço de jihadistas leva Iraque a nova onda de violência150 fotos

147 / 150
21.ago.2014 - Combatentes curdos patrulham área da represa de Mosul, no norte do Iraque. Apesar das falhas estruturais, a maior barragem do país com 3,6 km de extensão, construída por um consórcio alemão-italiano na década de 1980, é fonte vital de energia para Mosul, a maior cidade do norte do Iraque com 1,7 milhões de habitantes. Os insurgentes do Estado Islâmico havia tomado o controle da barragem nas últimas semanas. As forças iraquianas e curdas conseguiram retomar o controle do local com a ajuda de ataques aéreos dos EUA Youssef Boudlal/Reuters

Entenda a violência no Iraque
  • O que está acontecendo?
    Desde que as tropas americanas saíram do Iraque, em 2011, o grupo islâmico EI vem rapidamente ocupando cidades do país. Desde 6 de junho, já tomou Mosul, segunda maior cidade e bastião da resistência à ocupação dos EUA e aliados, e partes de Tikrit, cidade de Saddam Hussein próxima da capital Bagdá. Desde então, cerca de 500 mil pessoas fugiram da região.
  • Quem está atacando?
    O EI (Estado Islâmico), um grupo islamita sunita que declarou ter criado um califado nas áreas sob o seu controle no Iraque e no Levante (parte de Síria e Líbano). Seu principal líder foi Abu Musab al-Zarqawi, morto em 2006. Hoje a liderança tem vários nomes, mas o principal é Abu Bakr al-Baghdadi. Surgiu da união de grupos que lutaram contra a ocupação do Iraque pelos EUA.
  • O que é um califado?
    É uma forma de governo centrada na figura do califa, que seria um sucessor da autoridade política do profeta Maomé, com atribuições de chefe de Estado e líder político do mundo islâmico. O Estado, que seguiria rigorosamente a lei do Islã, compreenderia a região entre o mar Mediterrâneo e o rio Tigre.
  • Qual o tamanho do confronto?
    O governo, que tem forte apoio xiita, perdeu o controle de grande parte de norte e oeste do Iraque, e agora pede que civis peguem em armas para lutar contra a milícia. O Exército de 930 mil integrantes, que, em tese, seria suficiente para derrotar o grupo, não conseguiu barrar o EI em outras cidades já tomadas. Até agora, mais de 5.500 iraquianos foram mortos só neste ano, segundo a ONU.
  • Qual a força do EI?
    O grupo, que recebe grandes doações ocultas de dinheiro, tem milhares de militantes, inclusive "jihadistas" americanos e europeus, e se aproveita da disputa entre o governo de Maliki, apoiado pelos xiitas, e a minoria sunita para conquistar espaço. Acredita-se que seja patrocinado por governos da região. Embora seja considerado um braço da Al-Qaeda, se rebelou e foi expulso pelo líder Al-Zawahiri.
  • O Iraque pode se dividir?
    Apesar de o governo central de Bagdá ainda controlar oficialmente as províncias do país, é possível que haja a fragmentação em ao menos três territórios. Isso porque a divisão do Iraque entre árabes sunitas, xiitas e curdos já está bem avançada
Fonte: uol notícias - 18/08/14

Nenhum comentário:

Postar um comentário