Para Odimar Batista, situação dos colegas no Brasil é absurda.
Bombeiros iniciantes ganham R$ 6,5 mil por mês em sua cidade, contou.
O brasileiro Odimar Batista, com farda de bombeiro
nos EUA (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
nos EUA (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
O bombeiro Odimar Batista ficou chocado com as notícias que leu a respeito da prisão de seus colegas de profissão que atuam no Rio de Janeiro após protestos por melhores salários e condições de trabalho.
Depois de quatro anos trabalhando na função, ele está acostumado a ver seus contratos renegociados periodicamente e a ver manifestações de colegas serem aceitas sem haver repressão. “Aqui, quem protesta não vai preso”, contou ao G1 direto dos Estados Unidos, onde vive desde 1988.
“Os bombeiros aqui nos Estados Unidos, por meio dos sindicatos, podem negociar seus contratos cada vez que eles expiram. Todo trabalhador tem direito a isso”, contou, a respeito da situação na cidade de Wayland, em Massachusetts, onde trabalha.
Segundo ele, sempre existe um ponto de contenção, e é normal haver disputa nas negociações. “Mas tudo é negociado bem detalhadamente. Colocamos o que queremos na mesa e vamos discutindo. Há uma mediação, às vezes o processo é litigioso e tudo é disputado. Em alguns lugares do país, quando não se chega a acordo, os bombeiros fazem protestos, aparecem na mídia, falam, mas não são presos”, disse.
R$ 6,5 mil por mês
Batista respondeu ao contato do G1 e concedeu entrevista desde Massachusetts por telefone usando um iPhone. No Brasil, um aparelho como este custa cerca de R$ 1.500, um valor bem acima do salário inteiro de muitos bombeiros brasileiros.
Segundo Batista, o salário de um bombeiro iniciante em Wayland, cidade em que trabalha, é de US$ 49 mil por ano (equivalente a cerca de R$ 6,5 mil por mês). Além disso, há uma série de “diferenciais”, como curso superior, curso de paramédico e horas extras, que aumentam o valor recebido pelos profissionais.
“Do ponto de vista financeiro, é um trabalho que vale a pena”, disse. Fora o salário, os bombeiros da cidade trabalham em um esquema de dois plantões de 24 horas em 3 dias, seguidos de 5 dias de folga, o que permite que tenham outros trabalhos. “Eu tenho outros dois trabalhos, que ajudam a melhorar a renda”, disse Batista.
Nos Estados Unidos, os bombeiros respondem às cidades em que atuam, e não ao governo do Estado como acontece no Brasil. Os salários são definidos localmente, e variam de lugar para lugar. Em Nova York, por exemplo, o salário inicial dos profissionais é equivalente a R$ 4,3 mil por mês, com 5 reajustes anuais até chegar a R$ 6,1 mil - sem contar benefícios. No caso de paramédicos, o valor é mais alto, e começa em quase R$ 6 mil.
Em todo o país, há muitos voluntários que trabalham como bombeiros, mas a instituição também costuma ter profissionais contratados, de carreira.
Vocação longe de casa
Mineiro de Coronel Fabriciano, Batista morava em Vitória (ES) quando foi para os Estados Unidos, em 1988, aos 17 anos. A ideia era ficar pouco tempo, mas ele começou a trabalhar e acabou ficando até hoje.
Após trabalhar em restaurantes e como pintor, em 1995 ele decidiu que queria ser bombeiro. Fez cursos, testes de seleção, buscou de todas as formas, mas só conseguiu ser aceito em 2008. “O processo é muito rigoroso”, disse. Desde então, já trabalhou em duas cidades diferentes e já esteve em situações de risco, atuando em incêndios residenciais e situações de resgate e busca.
Por mais que se tornar bombeiro tenha sido a realização de vocação, um sonho profissional, Batista disse ao G1 que, por conta da situação dos colegas no Brasil, não aceitaria voltar para o país onde nasceu para exercer a mesma função.
“Gostaria muito de voltar para o Brasil, mas não aceitaria essas condições de trabalho de maneira alguma. Não teria as oportunidades e as condições de trabalho que tenho aqui”, contou. “Arriscamos nossa vida exercendo a função de proteger vidas. É um sacrifício pessoal e familiar. No Brasil, o trabalho é feito sem receber bem, com equipamentos problemáticos e sem poder reclamar. O que está acontecendo é um absurdo”, disse.
Fonte: G1
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