O Brasil precisa urgentemente formar e/ou importar milhões de engenheiros, tecnólogos e técnicos de nível médio e pós-médio, principalmente na área de exatas do que em ciências biológicas e ciências humanas e sociais, para se tornar uma verdadeira potência econômica, científica, tecnológica e militar. Por quê? Analise os fatos.
O Brasil possui o maior número de faculdades de Direito no mundo e produz muito mais teses de mestrado e doutorado em ciências humanas e sociais por ano do que registro de marcas e patentes de alta tecnologia em máquinas e equipamentos.
Como descreveu o Editorial da Revista Superinteressante de novembro/2010 e o Alexandre Versignassi, jornalista científico, no seu artigo “Um pedido ao próximo presidente” nesta mesma revista, o Brasil necessita imediatamente de “menos poesia e mais engenharia.”
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), são 1.240 faculdades de Direito no Brasil, enquanto que no restante do mundo, incluindo EUA, China, Europa e África, há no total 1.100 cursos.
O número de advogados com a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está próximo de 800 mil. Já o número de bacharéis de Direito, só no Brasil, é maior que 3 milhões e o número de graduandos é maior que 4 milhões em nosso país.
Segundo o artigo “Brasil registra menos patentes do que Toyota sozinha”, publicado no Jornal Brasil Econômico de 09/02/10, “em 2009, em plena recessão, a Toyota sozinha registrou no mercado internacional mais de mil patentes. No mesmo ano, todas as empresas brasileiras reunidas não conseguiram registrar pelo sistema internacional nem metade desse volume.”
“Multinacionais como Sharp, LG, Dupont, Motorola ou Microsoft também registraram mais patentes que todo o setor privado e institutos de pesquisa do Brasil, o que mostra a distância entre o país e os principais centros de inovação. Só a Panasonic registrou um número de patentes cinco vezes maior que todo o Brasil.”
“Em 2009, o Brasil era responsável por apenas 0,3% das patentes internacionais registradas. O registro de patentes é considerado como um índice de desenvolvimento tecnológico e de pesquisa dos países. O Brasil, entre 2005 e 2009, subiu da 27ª posição no ranking de países que mais registram patentes para a 24ª posição. Há cinco anos, o Brasil registrava 270 patentes. Em 2009, esse número chegou a 480, superando Irlanda, África do Sul e Nova Zelândia.”
“Apesar do avanço, o Brasil ainda está distante de outras economias. Só a China registrou em 2009 mais de 7,9 mil patentes e já superou França e Reino Unido em inovação. Hoje, a China é a quinta economia mais inovadora do mundo. Entre 2008 e 2009, os chineses aumentaram os registros em 29,7% e uma de suas empresas, a Huawei Technologies, é a segunda maior responsável por patentes no planeta.”
“Sozinha, a empresa tem mais de 1,8 mil patentes registradas apenas em 2009. Ela só é superada pela Panasonic, do Japão. A maior responsável por patentes no Brasil em 2009 foi a Whirlpool, com 31 pedidos de patentes e a 565ª maior do mundo. A Universidade Federal de Minas Gerais é a 858ª maior responsável por patentes no mundo em 2009, com 20 pedidos.”
“Elas são as duas únicas representantes brasileiras entre as mil empresas e instituições que mais registram patentes. No ranking geral, o país emergente melhor colocado é a Coréia do Sul, em quarto lugar e com oito mil patentes em 2009. A liderança ainda é dos Estados Unidos, que registrou no ano passado 45,7 mil patentes, quase 30% de todas as patentes existentes no mundo em 2009.”
Penso que possuímos uma cultura que valoriza muito o entretenimento (todos os tipos de lazer), as artes (principalmente, as músicas populares e as novelas), os esportes (principalmente, o futebol), as ciências humanas (principalmente, o curso de Direito) e as biológicas (Medicina, principalmente) do que a pesquisa, o desenvolvimento, a invenção, a inovação e os negócios em engenharias e em ciências exatas.
No Brasil, o curso de medicina está até hoje entre os primeiros cursos em maior quantidade de inscritos para os vestibulares, juntamente com o curso de Direito. É uma mistura idealizada de status intelectual, social e econômico juntamente com pretensões em satisfazer certos sonhos de muitos familiares, que não é sempre a real intenção e vocação do indivíduo que se inscreve nestes vestibulares.
Em 2007, o Brasil possuía 167 faculdades de medicina, só perdendo para a Índia (222) em termos globais. Contudo, esta possuía uma população, na época, seis vezes maior que a nossa. Já em 2010, o Brasil possui 181 cursos de medicina, segundo Adib Jatene, ex-ministro da Saúde.
Segundo a divulgação da Associação Médica Brasileira (AMB) no seu site em julho de 2010, “o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que não há falta de médicos no Brasil. Entre 2000 e 2009, a quantidade de profissionais de medicina aumentou 27% – de 260.216 para 330.825. No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu aproximadamente 12% – de 171.279.882 para 191.480.630, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).”
“Em 2009, uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que a média nacional é de um médico para 578 habitantes e a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que a proporção ideal é um médico para cada mil habitantes. Atualmente, existe uma concentração maior de médicos nas regiões metropolitanas e a quantidade de médicos cresce percentualmente mais do que a população brasileira. Por exemplo, na capital paulista existe um médico para cada 239 pessoas e em Belo Horizonte, 172 habitantes para cada profissional.”
Porém, como a tendência da população urbana no Brasil é de crescimento (em 2010, segundo o censo do IBGE, a população urbana é 84% do total) e as cidades médias estão se desenvolvendo, urbanizando-se cada vez mais e aumentando sua população respectivamente, a saturação dos médicos em todo o país será um fenômeno muito provável em uma questão de poucos anos e/ou uma ou duas décadas.
Já o número de faculdades de engenharia no Brasil e o número de formandos não aumentam de forma razoável, tanto em números relativos quantos absolutos.
Segundo William Eid Júnior, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em seu artigo “Brasil 2030: as previsões e o viés da memória de curto prazo” no Jornal Valor Econômico em 25/11/10, a “China forma 300 mil engenheiros por ano, a Índia, 200 mil. Nós, menos de 30 mil. Claro, podemos argumentar que a população deles é muito maior. Mas como justificar que a Coréia, com uma população que é um quarto da brasileira, forme três vezes mais engenheiros? Dos formados em cursos superiores no Brasil, apenas 5% são engenheiros. Na Coréia, são 25%. Parece que descobrimos um dos segredos deles.”
José Pastore, professor da faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo, em seu artigo “Escassez de engenheiros” em 20/07/10 no Jornal O Estado de São Paulo, afirmou que “o Brasil possui 600 mil engenheiros registrados. É um número suficiente para o desenvolvimento do País? Há discussões. Para alguns, seis engenheiros para cada mil trabalhadores são muito pouco. Nos EUA são 25. Lá são formados cerca de 130 mil engenheiros por ano.”
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), até 2012 faltarão cerca de 150 mil engenheiros para preencher as vagas que estão surgindo, excluindo- se as vagas para técnicos de nível médio e pós-médio que o país sempre necessitou e tanto a cultura da supervalorização dos diplomas de bacharéis juntamente com o pré-conceito, da classe média e da elite, à formação técnica de nível médio impediram.
Já parou para pensar, por que no Brasil não existem muitos eletrodomésticos, eletrônicos, celulares, computadores, veículos, motos, aviões, entre outros de tecnologia 100% nacional? E por que a indústria nacional sempre precisa importar todo tipo de máquinas e equipamentos (bens de capital) para modernizar seu parque industrial? Simplesmente, porque quase toda esta tecnologia foi inventada e patenteada pelas maiores multinacionais estrangeiras e não por nossas indústrias, empresas e universidades.
As indústrias brasileiras (nada contra as multinacionais estrangeiras) e seus empresários, infelizmente, não investiram no desenvolvimento de alta tecnologia devido a múltiplos fatores internos e externos à indústria, mas, talvez, o principal deles, foi à falta de uma mentalidade em nosso país de valorização da educação, com investimentos maciços no ensino básico (fundamental e médio) e em matérias de ciências exatas, como matemática, física e química com seus respectivos laboratórios, feiras e campeonatos de ciência e tecnologia com prêmios em dinheiro, assim como é tradição nos EUA e como foi feito na Coréia do Sul e está sendo feito na China.
Nos EUA, a parceria entre as indústrias e as universidades para a produção de tecnologia avançada é uma prática corriqueira e natural. Infelizmente, a cultura governamental brasileira de pré-conceito à iniciativa privada e a arrogância e ignorância de muitos políticos e funcionários públicos das três esferas do poder (Executivo, legislativo e judiciário) em relação às boas idéias liberais e capitalistas que deram muito certo em todos os países desenvolvidos, somada a falta desta vontade política e a corrupção, impediram até hoje, o nosso desenvolvimento.
Contrariamente, todos nós, contribuintes brasileiros, somos forçados a sustentar uma enorme e ineficaz máquina governamental, com uma folha de pagamento gigantesca e com despesas correntes crescentes que acabam por onerar a toda à população que paga impostos de primeiro mundo e não possui acesso a serviços públicos no mesmo nível.
Ao mesmo tempo, muitos políticos arcaicos e adeptos da idéia de não-eficiência na Gestão Pública menosprezam à nossa inteligência e a racionalidade das mais modernas técnicas de administração, independentes de serem criadas e adotadas em empresas privadas e/ou estrangeiras.
Até parece que não existe o interesse em se desenvolver produtos de alta tecnologia “Made in Brasil”, pois os salários pagos as carreiras governamentais são muito maiores do que é pago aos engenheiros. Muitos formaram (e/ou foram desestimulados a estudar) nas mais diversos cursos de engenharias, mas acabaram por desistirem deste nobre e hiper talento à produção de máquinas e equipamentos de sofisticada tecnologia para entrarem na competição dos concursos públicos que pagam salários muito acima de R$ 5 mil reais/mês, satisfazendo-se como funcionários públicos estáveis.
Afinal, muitos engenheiros no Brasil não conseguem empregos em sua área de formação ganhando quantias iguais e/ou superiores a R$ 5 mil/mês de forma tão simples e abundante, pois as condições macro e microeconômicas, educacionais e sociais não foram e não são até hoje suficientemente favoráveis.
Não existem no Brasil milhares de indústrias de alta tecnologia, principalmente em equipamentos eletrodomésticos, eletrônicos, veículos, celulares, computadores e outras diversas máquinas e equipamentos destinadas tanto aos consumidores pessoas físicas do varejo quanto como bens de capital, contratando e pagando altos salários a milhares de engenheiros.
Sei que as carreiras jurídicas, médicas, governamentais, entre muitas outras, são muito importantes ao país, mas se quisermos ser uma potência mundial, precisamos de centenas de milhares de engenheiros mecânicos, elétricos, eletrônicos, de Hardware, de Software, químicos, entre outros destas formações base, para o nosso desenvolvimento e orgulho.
Os mais jovens precisam admirar as ciências e as tecnologias, no sentido da produção da mesma e não só no seu consumo. Quase todos amam carros, celulares, computadores, televisões, máquinas fotográficas, filmadoras digitais, motos, aviões, equipamentos de áudio e vídeo, jogos eletrônicos, mas ao mesmo tempo, muitos não gostam da matemática, da física e da química, que são as ciências básicas utilizadas para produzirem todas estas maravilhas da tecnologia.
Até na medicina, a engenharia é essencial. Imaginem todos os hospitais sem os aparatos tecnológicos e sem todas as máquinas e equipamentos médicos existentes atualmente? E imaginemos todos nós sem os medicamentos altamente sofisticados produzidos pelos engenheiros químicos e a indústria farmacêutica? E sem todos os produtos de higiene, beleza e todos os demais da indústria química? E a nanotecnologia? A engenharia genética? A engenharia da computação, de hardware e software? E a engenharia aeroespacial e aeronáutica?
Já engenharia militar sempre foi muito importante à humanidade como um todo através dos seus avanços científicos e tecnológicos ao longo da história, desenvolvendo inclusive tecnologias utilizadas em todos os setores na sociedade civil, além de proporcionar ao país uma maior capacidade de Defesa.
Não podemos ter pré-conceitos anti-capitalistas, anti-liberais, anti-militaristas, anti-armamentistas, anti-polícia e anti-segurança pública, caso desejamos ser uma grande potência econômica, científica, tecnológica e militar no futuro. Logo, racionalmente falando, o melhor remédio contra todos os pré-conceitos é o conhecimento.
Será que devemos só produzir, inventar e até exportar jogadores de futebol, músicos, atores, artistas, comediantes, “palhaços”, funcionários públicos, políticos, juízes, promotores, delegados, advogados, bacharéis em direito, médicos, jornalistas, escritores e demais profissionais só das áreas de ciências humanas, sociais e biológicas?
Deveríamos imitar, sem nenhum pudor e pré-conceitos, os EUA, o Japão, a China, a Coréia do Sul, a Alemanha, a Inglaterra, o Canadá, a Finlândia, a Noruega, a Suécia, a Dinamarca, a Itália, a França, a Austrália, Israel e todos os demais países mais desenvolvidos nos vários aspectos econômicos, científicos e tecnológicos em que os mesmos possuem padrões de excelência.
Afinal, os pré-conceitos ideológicos, políticos (independente de serem “de direita ou de esquerda ou de centro” ou de qualquer outra posição), partidários, sindicais, religiosos, culturais e de todos os tipos apenas dificultam o desenvolvimento cognitivo humano de forma mais ampla e retardam o crescimento econômico e a boa convivência de todos, nos tempos e nos espaços.
Fonte: Prof. José Carlos Lobo, Filósofo UFMG
Texto fantástico do Professor José Carlos. A muito o Brasil esqueceu a importância da engenharia, a muito o Brasil negligênciou seus filhos engenheiros e com isso trilhou o caminho da depêndencia e do subdesenvolvimento.
A primeira universidade instalada pelos portugueses no Brasil foi a de Engenharia, para que houvesse menos depedência de Portugal, esse é o exemplo que fica da história! A ENGENHARIA tem que ser prioridade nacional.
Eng.ºAlberto Cohen Filho
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