segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nos cem dias de Dilma Rousseff, FHC propõe oposição menos agressiva do que foi com o ex-presidente Lula


Dilma e FHC no jantar com Barack Obama no Itamaraty (Foto: Beto Barata/Agência Estado)
 
   O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que, nestes primeiros cem dias do governo Dilma Rousseff, o que mais se notou foi a substitutição do estilo “popular-tonitruante” de Luiz Inácio Lula da Silva pela fala “tecnocrática-comedida” da atual presidenta.

   Na entrevista abaixo ao Poder Online, feita por email, FHC afirma que Dilma Rousseff, nestes cem dias, abandonou sua imagem antiga, “carrancuda e autoritária”,  e adotou o estilo de uma “senhora quase bonachona, embora cortante quando necessário”.

   Fernando Henrique mostra simpatia pela atual presidenta, e o mesmo mal estar dos últimos anos com Lula.
Dito isto, o ex-presidente tucano propõe: a oposição a Dilma Rousseff deve ser menos agressiva, “o que ajudará a melhorar nossos costumes políticos”.

Poder Online – Qual sua avaliação sobre estes  primeiros cem dias do governo Dilma Rousseff?
Fernando Henrique Cardoso - É difícil julgar um governo pelos cem primeiros dias, pois a opinião pode ser mero preconceito ou, ao contrário, uma visão que se pensa que é objetiva mas pode ser precipitada. Talvez se possa falar mais apropriadamente do “estilo de governar” do que das políticas do governo.  Neste sentido, o contraste entre  o estilo “popular-tonitruante” de Lula e a fala tecnocrática-comedida de Dilma seja o que mais se nota.

Poder Online – E como o senhor classificaria o estilo Dilma?
Fernando Henrique Cardoso - Vê-se que a presidente entendeu que no mundo contemporâneo a imagem conta muito: apresenta-se elegante e sorridente, não se poupando de posar para os fotógrafos. E no lugar da carrancuda e autoritária Dilma aparece uma senhora quase bonachona, embora cortante quando necessário.

Poder Online – Esse estilo é melhor ou pior do que o do ex-presidente Lula?
Fernando Henrique Cardoso – Como o país, ou melhor as elites atentas à mídia pareciam cansadas do estilo anterior, a sensação é de “normalidade”, quase alívio: menos piruetas verbais, menos escorregões retóricos que levam a opiniões superficiais e mesmo absurdas, do que as que ouvíamos no passado recente. Mas atenção: estilo não quer dizer substância das políticas.   O caso da Vale mostra que continua a tendência à ingerência do governo em matéria econômica que não lhe diz respeito.   E a proclamada austeridade fiscal se choca com a continuidade de transferências de recursos do Tesouro (na verdade empréstimo tomados no mercado) para o BNDES subsidiar as “empresas vencedoras”, escolhidas pelo governo para serem as condutoras do crescimento econômico.

Poder Online – Como foi o seu encontro com ela durante aquele almoço com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama?
Fernando Henrique Cardoso – Meu encontro com a presidente no almoço do Obama, assim como o encontro anterior em uma homenagem ao jornal Folha de S.Paulo, foi simpático e atencioso.  Pessoalmente só recebi gentilezas de alguém que durante o passado teve apenas encontros breves comigo e não amizade. Já o Lula …

Poder Online – E a oposição à Dilma? Deve ser diferente da oposição feita ao ex-presidente Lula?
Fernando Henrique Cardoso – Talvez ela requeira menos agressividade, posto que no governo anterior o PSDB foi definido como “inimigo”, e eu como a personificação do diabo.   Menor agressividade não quer dizer menos clareza na crítica, quando for o caso, mas talvez seja possível dizer com maior objetividade no que e por qual motivo discordamos, o que ajudará a melhorar nossos costumes políticos e a permitir que as pessoas conheçam melhor a razão pela qual apóiam ou discordam de tal ou qual decisão do governo.

Fonte: Ig

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