(22.01.2004) Ao ler, nos jornais, a declaração do Subsecretário do Tesouro dos EUA, de que a Casa Branca "aprova, com louvor, o Governo Lula", deixei de achar estranha a informação que recebi de que o George Bush, numa roda de governantes e diplomatas estrangeiros, ter comentado que gosta muito de Lula, apesar de ele ser de esquerda, condição que o próprio Lula faz hoje questão de negar.
Recordo-me do que, já há vários anos atrás, dizia o saudoso Darcy Ribeiro: "o PT é a esquerda que a direita gosta". Ele se referia, claro, às práticas de fazer muito barulho, ao radicalismo verbal, às aparência revolucionárias, encobrindo, afinal, práticas conservadoras, que mantêm, sob um aspecto "politicamente correto", as velhas estruturas de dominação que cativam o Brasil e seu povo.
Não é, de fato, o que vem acontecendo? Nosso país não vem cumprindo, e até além do que lhe exigem, as regras do capital financeiro internacional, do FMI e das multinacionais? Não aumentamos o superávit, não pagamos todos os juros extorsivos, não continuamos a submeter nosso povo sacrifícios, em matéria de educação, saúde, serviços públicos e renda, tudo para honrar tais compromissos? As empresas americanas, como recentemente recebeu a AES do BNDES, não continuam tendo condições favorecidas, mesmo quando não pagaram o que tomaram emprestado?
Ou será que afirmar nossa soberania, nossa dignidade se faz com pequenos incidentes, com situações espalhafatosas como as que vem sendo criadas com os turistas norteamericanos? Não é de hoje que eles tratam, não apenas aos brasileiros, mas a muitos povos, com arrogância e excessos de exigências descabidas nos aeroportos, mas é uma puerilidade achar que a forma de reagirmos a isso é, simplesmente, fazermos o mesmo. Puerilidade ou, pior ainda, uma cortina de fumaça para que, naquilo que é essencial, as relações econômico-financeiras, continuemos a ser dóceis como cordeiros, deixando que os frutos do trabalho de nosso povo e as riquezas do país se esvaiam pelos ralos de um sistema que nos condena à perda, onde ficamos mais pobres e dependentes em relação a eles.
O Presidente Lula, agora em seu novo avião de US$ 70 milhões, vai continuar a correr mundo e colher aplausos nos salões do capitalismo internacional. Um ex-operário, que nega agora ser de esquerda, é, sem dúvida uma atração que nada fica a dever ao antigo sociólogo esquerdista que tornou-se o príncipe do neoliberalismo.
Leonel Brizola
Presidente Nacional do PDT
Fonte: Portal PDT
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